O estado do Espírito Santo decretou situação de emergência em saúde pública por conta da dengue e se vê diante de uma crise devido ao contínuo aumento nos casos. Embora a dengue apresente um comportamento endêmico desde a década de 80, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) registrou alarmantes 87.670 notificações da doença até 21 de março.
A proliferação do mosquito Aedes aegypti encontra terreno fértil em ambientes com água parada, seja limpa ou suja, podendo até mesmo se proliferar em caixas d’água sem a devida vedação.
“A ausência de saneamento básico vivida por milhões de brasileiros, não é um privilégio apenas dos capixabas, sabe-se que a gestão inadequada de resíduos sólidos, a falta de acesso à água tratada de forma regular, a ausência de um sistema de coleta e tratamento de esgoto, se somam a habitações precárias e a degradação ambiental para ampliar ainda mais a crescimento da doença”, é o que afirma a diretora executiva do Ideias, Luana Romero.
Segundo o Painel do Saneamento, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, mais de 634 mil pessoas no Espírito Santo ainda vivem sem acesso à água tratada e que se somam à parcela da população que contam com uma frequência insuficiente de recebimento de água, acarretando o uso de reservatórios por milhares de pessoas. Assim, o armazenamento do recurso hídrico de forma inadequada consolida um cenário preocupante para a expansão da doença.
Considerando que 40% da população do estado vive sem a coleta de esgoto, pode-se afirmar que a ausência do saneamento potencializa os criadouros de mosquito, já que sem o correto destino do efluente, este acaba sendo lançado in natura ou nos corpos hídricos.
“Embora a dengue não tenha endereço certo e acometa todas as parcelas da população é notório que as comunidades mais vulneráveis arcam com o maior peso da dengue. Devido à falta de saneamento, acesso à saúde, habitações precárias e disparidades socioeconômicas estas estão mais expostas à doença e suas consequências”, ressalta a diretora.
Ainda que a dengue impere como um problema de saúde pública, também causa profundas consequências econômicas. Além do valor irreparável com a perda de vidas, altas cifras devem ser vinculadas ao tratamento e a sobrecarga do sistema de saúde, além das perdas de produtividade da população economicamente ativa.
O afastamento das atividades laborais representa impactos profundos na subsistência das famílias como um todo, além da produtividade para as empresas. De acordo com Luana, investir em saneamento, na urbanização das áreas mais vulneráveis e no acesso a uma infraestrutura de qualidade é também sustentabilidade econômica, cabendo à sociedade como um todo um olhar apurado sobre o tema.
“Passadas 04 décadas que este tema é rememorado anualmente, nos faz refletir, até quando seguiremos vivendo a consequência da falta de políticas públicas que promovam a inclusão e a saúde da população, principalmente as mais vulneráveis?”, conclui.